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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Publicações no Diário Oficial da União, Diplomas e Certificado


Publicação da Medalha de Campanha, em 01/04/1946
concedida aos Oficiais e Praças da Segunda Guerra Mundial
Decreto-lei nº 6.795 de 17 de agosto de 1944
Diário Oficial da União - 1ª parte

Publicação dos soldados que receberam a Medalha de Campanha
Decreto-lei nº 6.795 de 17 de agosto de 1944
Diário Oficial da União - 2ª parte






SAR e Convite para homenagem ao Soldado


Serviço de Assistência Religiosa da FEB
 

Convite de Homenagem ao Soldado Aristides
22/01/1945


Cartão de Identidade de Soldado e Carteiras de Sócio da FEB








REVISTA E ACESSÓRIOS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

CAPA



FOLHA DE ROSTO



ZONAS DE COMBATE



ACESSÓRIOS DOS EX-COMBATENTES VETERANOS DE GUERRA DA FEB



Artes de Carlos Alberto Pires
 


Canção do Expedicionário

HINOS E MARCHAS MILITARES
Composição: Guilherme de Almeida

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Você sabe de onde eu venho?
E de uma Pátria que eu tenho
o bôjo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacaranda,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.


AGRADECIMENTOS



Arte de Carlos Alberto Pires
 
  

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ex-Combatente Veterano de Guerra da Segunda Guerra Mundial - 1944 e 1945



Homenagem póstuma a mais um dos "heróis esquecidos" da Segunda Guerra Mundial.

Nascido no Município de Montenegro/RS, filho de Emílio Borges e Célia Goulart Borges, foi a combate em solo italiano na Segunda Guerra Mundial, no período de 1944 e 1945. Casou-se com Maria Antonia Borges em 15/12/1951; desta união, tiveram sete filhos: Loiva Maria Borges, Carmensita Angela Borges, Cícero José Borges, Emilce Maria Borges, Fatima Maria Borges, Marisa Borges e Marcia Borges.


Com o casamento dos seus filhos, hoje a Família Borges é composta por Wagner, Sebastião, Silva Borges, Mendonça, Mesquita, Dias e Pires.

Netos: Vagner Borges Wagner, Letícia Borges Sebastião, Vinícius Borges Dias, Cibele Borges Mendonça, Mateus Borges Mendonça, Murilo Borges Mesquita, Marcos Borges Mendonça e Rebeca Silva Borges.


UM BREVE RELATO DESTA HISTÓRIA

Como a maioria dos ex-combatentes veteranos de guerra, Aristides Goulart Borges, também passou por diversas frustrações em busca de seus direitos, tentou romper barreiras, mas por falta de apoio e consideração, conquistou apenas alguns direitos. A falta de acesso às informações e  a confusa legislação brasileira tornaram cada vez mais complicado reivindicar direitos. As leis militares foram sendo revogadas a cada governo, fazendo com que ao longo dos anos só aumentasse a injustiça daqueles que mereciam não apenas homenagens, por terem corrido risco de vida e passado por tantas aflições em combate, nossos governantes deveriam ter concedido todos os direitos possíveis aos ex-combatentes veteranos da Segunda Guerra Mundial, mas resolveram em vez de conservar, tirar alguns direitos desses cidadãos, os quais já haviam enfrentado tantas dificuldades em combate.

Assim que terminou a guerra, a FEB foi extinta, quando os ex-combatentes chegaram ao Rio de Janeiro no ano de 1946, receberam apenas homenagens, porque as promessas feitas pelo governo não foram cumpridas, até mesmo os dólares que o governo americano concedeu aos ex-combatentes que haviam participado do Teatro de Operações na Itália tomou outro rumo, pois, desde 1946, ninguém sabe onde foi parar o prêmio em dólares concedido aos ex-combatentes veteranos de guerra, poucas pessoas sabem disto, somente quem conheceu ou conhece algum ex-combatente veteranos de guerra que teve informações a respeito deste assunto, tem noção sobre mais esta injustiça feita contra eles. Foi pela falta de conhecimento da maioria dos ex-combatentes veteranos de guerra sobre os seus direitos que abriu espaço para que aqueles direitos fossem dispersados.

Desde a extinção da FEB, até os dias de hoje, os ex-combatentes veteranos de guerra que, ainda estão vivos, mesmo com idade avançada, continuam tentando que seus direitos sejam reconhecidos, porém não receberam a devida consideração de nenhum governo até hoje. Ao contrário, ainda por cima, para completar todas as confusões elencadas nesta história, a maioria das pessoas não sabe a diferença entre os ex-combatentes veteranos de guerra que viajaram para a Itália (os que foram a combate) e os ex-combatentes que ficaram no litoral, com certeza tudo isto só aumenta o descaso referente a esta complexa questão.

Para quem já assistiu aos filmes, documentários ou de alguma forma teve acesso e leu sobre a verdadeira história destes "heróis esquecidos" tem conhecimento sobre os verdadeiros fatos ocorridos.

Este relato foi escrito por Marcia Borges Pires e as fontes que serviram de base para a sua elaboração foram extraídas de textos publicados na internet sobre a Segunda Guerra Mundial, dos textos lidos dois se destacam como fundamento deste relato: "Força Expedicionária Brasileira - Travessia do Atlântico" e  "O retorno dos pracinhas". E como reforço após os textos a seguir destacados se encontra o link como fonte de informação e conhecimento desta história.

Nascimento e Morte: 02/05/1924 a 12/01/2009.



O RETORNO DOS PRACINHAS


Volta para casa


No Brasil foram organizadas festas para receber os combatentes. Vargas temia que a FEB fosse usada como símbolo para derrubar o Estado Novo. Afinal, o fato de os pracinhas terem lutado contra ditaduras na Europa poderia ser usado como pretexto para derrubar a ditadura no Brasil.

De fato, dentro da FEB, as idéias democráticas ganharam a simpatia de oficiais e soldados. Exemplo disso é que, enquanto ainda estava na Itália, a tropa brasileira lançou um jornal de trincheira intitulado E a cobra fumou!, cujos editores incluíram sob o cabeçalho a frase "Não registrado no D.I.P.", uma provocação ao Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão de censura do Estado Novo.

Os membros da FEB logo perceberam as diferenças entre os Estados Unidos, um país moderno, em que se realizavam regularmente eleições diretas, e o Brasil, então um país atrasado, que vivia sob uma ditadura parecida com as que os pracinhas estavam enfrentando na Europa.

A propósito, o nome do jornal era uma alusão ao distintivo da FEB, que trazia o desenho de uma cobra fumando um cachimbo e a frase "A cobra está fumando", uma resposta bem-humorada àqueles que cinicamente diziam que seria "mais fácil ensinar uma cobra a fumar" do que o Brasil conseguir mandar uma força expedicionária para lutar na guerra.

Fim do Estado Novo


Para evitar a exploração do significado político da volta dos pracinhas, o governo Vargas dissolveu a FEB quando a maior parte do contingente ainda estava na Itália. Após os desfiles, os expedicionários foram proibidos de andar uniformizados pelas ruas ou de portarem medalhas e condecorações. Também estavam proibidos de dar entrevistas ou declarações públicas.

Nada disso impediu que, no dia 29 de outubro de 1945, tropas lideradas pelo general Góis Monteiro cercassem o Palácio do Governo e forçassem Getúlio a renunciar. Era o fim do Estado Novo.

Ao todo, morreram 460 homens da FEB na Itália, quase três mil foram feridos em combate ou sofreram acidentes. Também morreram 22 pilotos da FAB. Vários ex-combatentes voltaram para ao Brasil com problemas psicológicos e tiveram dificuldades para se adaptar novamente à vida civil. Eram comuns os casos de alcoolismo e violência doméstica.
Associações de ex-combatentes reivindicaram leis que beneficiassem os pracinhas. Uma delas, que acabou sendo concedida, era a que dava preferência a ex-combatentes nos casos de empate em concursos públicos. Infelizmente, contudo, muitos ex-combatentes não conheciam seus próprios direitos e não lutavam por eles.

Décadas depois, em 1988, com a aprovação de uma nova Constituição Federal, os ex-combatentes conquistaram o direito de uma pensão especial, mas o benefício havia chegado tarde demais para a maior parte deles: menos de dez mil estavam vivos quando a lei foi aprovada.

Um fator que contribuiu para a desvalorização da participação brasileira na guerra foi que muitos militares que participaram do Golpe de 1964, que instalou a ditadura do chamado regime militar (1964-1984), fizeram parte da FEB. Entre eles, o primeiro presidente do regime militar, o general Castelo Branco, que serviu na Itália como tenente-coronel.

Por causa disso, parte da esquerda que se opunha à nova ditadura passou a relacionar a FEB ao Golpe de 64. O que essa parte da esquerda havia se esquecido é que muitos esquerdistas (inclusive membros do PCB) também haviam participado da FEB, um dos quais, o historiador marxista Jacob Gorender, que se apresentou como voluntário.

Na FEB estavam pessoas que permaneceram em lados opostos durante os anos da ditadura militar. Bem de acordo com o espírito da Guerra Fria, após a derrota do inimigo comum (no caso, o nazifascismo), antigos aliados se tornaram adversários.

 

 

Para saber mais


· Livros:

Irmãos de armas: um pelotão da FEB na II Guerra Mundial, de José Gonçalves e César Campiani Maximiano. São Paulo: Códex, 2005. (O livro é um relato de caráter semi-autobiográfico. A co-autoria é de César Campiani Maximiano, doutor em História pela Universidade de São Paulo. Sem ser piegas, o livro é comovente em vários momentos.)

O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas, de Roberto Sander. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. (Sem perder o rigor da pesquisa, a narrativa de Sander é tão envolvente quanto um bom romance de espionagem.)

National Geographic Brasil: Edição Especial, nº 63-A, São Paulo: Abril, 2005. (Edição especial lançada por ocasião dos sessenta anos do término da Segunda Guerra. Traz uma coletânea dos melhores artigos sobre o assunto já publicados pela revista. Há três reportagens sobre o Brasil).
 
· Filme:

Senta a pua! - Direção: Erik de Castro. Brasil, 1999. (Documentário que conta a história dos pilotos da FAB durante a Segunda Guerra Mundial).

 

Veja também



*Túlio Vilela, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores do livro Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula (Editora Contexto).

Os textos publicados antes de 1º de janeiro de 2009 não seguem o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A grafia vigente até então e a da reforma ortográfica serão aceitas até 2012

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Como foi o retorno dos pracinhas brasileiros? Como eles foram recebidos em nosso país?

A recepção foi eufórica, fazendo dos veteranos da FEB pessoas muito prestigiadas. Contudo, essa euforia durou pouco, e aos ex-combatentes restou uma rotina penosa de readaptação à realidade da vida civil, nem sempre possível para muitos. Traumas psicológicos de todo tipo e a rotina da luta pela sobrevivência no mercado de trabalho dificultaram o retorno de milhares de brasileiros que estiveram nos campos de batalha à vida normal. As primeiras leis de amparo aos ex-combatentes só foram aprovadas em 1947. Além disso, na ânsia de se livrarem da FEB, tida como politicamente não-confiável pelo presidente Vargas, os pracinhas foram rapidamente desmobilizados sem que tivessem se submetido a exames médicos, que mais tarde seriam fundamentais para que obtivessem pensões e auxílios no caso de doenças ou ferimentos adquiridos no front. Para provar incapacidade decorrente do serviço na linha de frente e, assim, receber as pensões, os pracinhas tiveram de se submeter a todo tipo de vexames e sacrifícios, os quais seriam dispensáveis se sua desmobilização tivesse ocorrido de forma racional e planejada. Ao longo do tempo, várias leis de apoio aos ex-combatentes foram sendo promulgadas, até chegarmos à famigerada Lei da Praia, criada nos anos 60. De acordo com essa lei, qualquer pessoa que tivesse sido enviada à "zona de guerra" teria direito aos auxílios, pensões e promoções que estavam sendo reservados para aqueles que, de fato, foram à Itália. Mas acontece que, em todo o litoral do Brasil, vias navegáveis e cidades economicamente importantes se encontravam dentro dessa "zona de guerra". Dessa forma, o sujeito que estava de sentinela num fox hole (abrigo individual) nos Montes Apeninos, suportando temperaturas subárticas e todos os riscos de morte e invalidez, estava na "zona de guerra" tanto quanto o bancário ou o PM que havia sido transferido para uma cidade litorânea do Brasil. Ou seja, se essa lei auxiliou de fato os ex-combatentes, beneficiou também um enorme conjunto de servidores públicos, civis e militares que, ainda hoje, gozam de polpudas pensões, que fazem deles autênticos "marajás" entre os aposentados do serviço público.

Houve mudanças no Exército brasileiro em decorrência da guerra?

Não. O Exército fez o possível para marginalizar e desconsiderar quem esteve na linha de frente. Havia enorme preconceito e inveja daqueles que estiveram com a FEB e que, com seu sacrifício e dedicação, conquistaram numerosas glórias militares. Também o “varguismo” fez o possível para erradicar a FEB e suas memórias, justamente por causa do papel que seus membros exerceram na luta contra o nazi-fascismo. Toda experiência militar adquirida na luta contra o Eixo foi desprezada, esquecida e inutilizada, contrariando até mesmo o conselho dos EUA de que se visse a FEB como núcleo de um esforço de renovação e modernização de nosso Exército.



FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

TRAVESSIA DO ATLÂNTICO


As barcas LCI (Landing Craft Infantary)

"A Epopéia dos Apeninos" - José de Oliveira Ramos

No dia 22 de setembro, às doze horas e quinze minutos, o comboio se pôs em marcha lenta, rumo à saída da barra. Ao passarmos pela frente da Escola Naval, podíamos avistar, mesmo sem binóculo, o relógio da Central do Brasil, marcando 12,25, apesar do tempo estar um pouco enfumaçado e a visibilidade não ser das melhores. As doze e quarenta e cinco transpusemos a barra. Foi um momento de emoção. Deixávamos para trás nossa Pátria. Contemplávamos com longos olhares os morros e as praias do Rio de Janeiro e cada um de nós evocava gratas passagens que eles nos recordavam. As lembranças dos entes queridos que ficavam por trás daqueles montes nos vinham nítidas à memória. Quando voltaríamos a rever essas praias saudosas? Quando voltaríamos a transpor essa barra, de regresso à Pátria? Admirávamos o "Gigante Deitado", que o Cmte. Raul Reis descreveu pelo microfone de bordo, desde o morro da Gávea, passando pelo Corcovado, até o Pão de Açúcar. Para' a maioria de nossos homens, esta era a primeira vez que faziam uma viagem transatlântica e sentíamos um misto de tristeza e de entusiasmo, de emoção da partida e de curiosidade pelo que íamos vendo. E assim fomos nos afastando da Baía de Guanabara, onde ficavam os sonhos de após-guerra. O que nos interessava agora era a guerra em si. Com decisão e coragem enfrentamos a primeira etapa, que era justamente a travessia do Atlântico, para irmos lutar ao lado de nossos irmãos. O General Cordeiro de Faria, aproveitando o momento psicológico, dirigiu um belo discurso a suas tropas, falando sobre a significação daquele instante, em que deixávamos nossa Pátria, nossos parentes e amigos, para irmos defender o nome do Brasil e a liberdade dos povos oprimidos pelo nazi-fascismo.


Lá vem peixe - Lá vem tu-tu-tu

O que chama a atenção no início, a bordo, são as freqüentes ordens transmitidas a todo o navio pelos inúmeros alto-falantes, em inglês para os americanos e em português para os brasileiros. As ordens são precedidas por um agudo silvo. Os soldados logo aprenderam que depois do apito viria uma novidade e gritavam: "Lá vem peixe, lá vem peixe!" Uma das ordens mais comuns em inglês era para este ou aquele oficial ou marinheiro telefonar para o telefone 222, terminando as ordens pelo infalível "two-two-two". Nossa rapaziada achava graça naquela história e gritava: "Lá vem o tú- tú-tú! Olha o tú-tú-tú!"


Lixo, Lixo

Muitos soldados se divertiam na popa do navio, formando duas alas entre as quais passavam os marinheiros, encarregados de levar o lixo para o depósito. Os pracinhas gritavam: Lixo, lixo!, dizendo outras palavras inventadas, fingindo que falavam inglês. Os americanos achavam graça e pensavam que lixo queria dizer "abram passagem" ou cousa parecida. Na volta os próprios americanos vinham gritando também: "Lixo, lixoo!".

CONFUSÕES
Houve muitas confusões interessantes, entre brasileiros que não sabiam falar bem o inglês e americanos que sabiam o português. O nosso dentista do QG, o Ten. Paulino de Meio, estava comendo um bombom, perto de um americano. Querendo ser amável e não sabendo ao certo como era bombom em inglês, disse assim: "Want you good-good?" Ao que o americano lhe respondeu em ótimo português: "Não obrigado, não gosto de bombom". Uma outra foi com o Sargento Enfermeiro Menésio dos Santos, que desejava visitar a enfermaria de bordo. Dirigiu-se à sentinela, com a frase já engatilhada: "Permit I visit the enfermar?" Respondeu-lhe a sentinela, que havia passado vários meses no Rio de Janeiro: "Não pode ser, cai fora".


O objeto mais estimado a bordo

Havia a bordo um objeto de que não nos despregávamos um minuto. Cada homem, desde o General até o mais modesto soldado recebeu um. Usavámo-lo o dia inteiro e à noite dormíamos com ele bem junto. Era tratado com o máximo carinho e respeito. O homem que fosse apanhado sem ele seria severamente punido. Quem não estivesse com ele bem amarrado ao corpo durante a visita do General Alarm, ia direto para o xadrez. Tratava-se do salva-vida. Apesar da segurança quase absoluta em que viajávamos, todas as precauções eram tomadas para qualquer emergência. Exercícios diários punham a tripulação e a tropa em condições de enfrentar qualquer situação, na maior ordem e disciplina. Para evitar correrias atrás de salva-vidas, estes foram distribuídos no início da viagem e eram de uso obrigatório e permanente. O modelo de salva-vidas que a tropa usava era bem cômodo, sob forma de um colete, de fazenda impermeável, recheado de penas, com gola, preso da cintura ao pescoço, por várias tiras, reforçadas por um cinturão de lona. Por todos os cuidados de que nos víamos cercados, num navio eriçado de canhões e metralhadoras, comboiado pelos poderosos vasos de guerra, aviões e dirigíveis, o que se notava de extraordinário e assombroso, era o sentimento de segurança e despreocupação de que todos estávamos possuídos. Creio mesmo que no caso de um torpedeamento real, até à última hora, todos haveriam de pensar que era um inocente exercício e embarcariam nos botes de salvamento entre sorrisos e gracejos. De onde estou escrevendo esta crônica, posso contemplar a sala de estar dos oficiais. Um tenente pianista executa um tango ou fox, cercado por seus colegas. Muitos jogam cartas, saboreando seus cigarros. Outros conversam ou lêem jornais e revistas, aguardando a hora do "Cabaré da Cobra" e do cinema. As fisionomias em geral são alegres e sorridentes. Raras são as sérias e contemplativas. Nenhuma porém é triste ou apreensiva. Nos camarotes dos oficiais também o que impera é a "blague", a anedota, o "lero-lero" despreocupado. Parece que somos turistas a passeio e não soldados a caminho de um campo de batalha. No fundo, todos nós sabemos o que nos espera. Já temos conhecimento das ações em que se empenharam nossos irmãos de armas, que estão frente à Linha Gótica. O jornal de bordo, hoje, por exemplo, publicou as declarações de Churchill, sobre a continuação da guerra em 1945. Nada disso porém altera o ânimo e o moral da tropa. Essa calma, esse espírito esportivo, esse ânimo, com que seguem para o "front" as tropas brasileiras, se transformarão diante do fogo inimigo, em bravura, eficiência e heroísmo.


O General mais temido

O General mais temido por todos nunca foi visto, mas... quando ele se anunciava por uma estridente campainha, todos corriam para os postos de combate, apertavam seus salva-vidas, apanhavam os bornais e cantis, paravam de comer, de conversar, de qualquer cousa que estivessem fazendo, ficando silenciosos e imóveis, aguardando suas ordens. Era o "General Alarm", cujo nome figurava em tabuletas vermelhas, colocadas embaixo de campainhas também vermelhas, espalhadas por todo o navio. Sabíamos bem que esse general era da mesma família dos grandes General Motor-Car e General Eletric, mas agradava-nos a brincadeira de considerar o "Alarme Geral" como um lendário general que comandava o navio em certas horas. Enquanto o estridente General Alarm se anunciava em horas marcadas para os exercícios de combates e salvamento, ainda era recebido com respeito e certa benevolência. O que ninguém desejava era sua aparição intempestiva, em hora não combinada, sobretudo à noite, o que poderia significar alguns aborrecimentos em nossa amena e tranqüila viagem.
E' um Infeliz...
No regulamento de bordo existe um item referente ao indivíduo que por descuido (ou de propósito...) caia ao mar, que está assim redigido: "0 homem que cair ao mar é um infeliz, pois o navio não para afim de recolhê-lo". A disciplina do navio era também rigorosa no que dizia respeito à freqüência do refeitório, para o que foram distribuídos cartões, que cada qual devia exibir para entrar na sala de refeições. Se algum pracinha perdesse o cartão, não teria direito à refeição. Surgiu logo uma piada sobre isso: "Qual a semelhança entre o homem que cai ao mar e o que perde o cartão do refeitório?" A resposta era: Ambos são infelizes.


O "Nabisco"

O jantar que nos serviam era bem brasileiro, mas o almoço tinha cunho genuinamente americano, cheio de iguarias desconhecidas para nós. No .primeiro almoço nos foi servido um certo "Nabisco Shredded Wheat", que é uma espécie de biscoito de farinha de trigo, porém apresentado sob forma de um fio enrolado sobre si mesmo, como se fosse uma bobina, e muito seco e duro, parecendo palha sintética. Os comentários surgiram inúmeros, não só quanto ao nome Nabisco (iniciais da "National Biscuit Company"), que ficou célebre, como em relação ao gosto, apresentação e modo de ser comido. O Dr. Sá Nogueira, 1º Tenente Médico do Batalhão de Saúde, que era médico civil em São Paulo, atrapalhou-se seriamente com o Nabisco. Ao abrir o pacote, deu com o rolo de palha seca. Não teve dúvida. Salpicou de açúcar e provou. Não gostou. Experimentou outra porção com manteiga e sal. Também não ficou bom. Pos um pedaço puro na boca . Piorou muito. Ia desistindo de comer o malfadado Nabisco, quando o Cap. Médico Dr. Álvaro Pais, que já havia estado em Norte América, explicou-lhe que aquilo era para ser embebido em leite, com o qual formava uma papa saborosa. Noutros almoços vieram novas modalidades de Nabiscos, o "Corn Flakes", o "Rice Krispies", etc., que foram agradando a este ou aquele paladar. Já então todos sabíamos que era para se fazer a papa e ninguém mais queria comer o Nabisco em seco.


A Passagem do Equador

É um acontecimento tradicionalmente comemorado a passagem do Equador. Embora viajássemos em um transporte de guerra; nem por isso se deixou de render homenagem a Netuno, que veio batizar seus novos súditos. A comemoração da passagem da linha do Equador estava marcada para as quatorze horas e meia do dia 27 de setembro, quando foi anunciada pelos alto-falantes a presença a bordo de Sua Majestade o Rei Netuno, com toda sua corte. À frente do cortejo vinha o embaixador de S.M., abrindo alas e anunciando aos quatro ventos a chegada do Rei dos Mares, que não era outro senão o próprio Cmte. Raul Reis, todo fantasiado. O Capitão de Corveta de nossa Marinha, Paulo Antônio T. Bardy, fantasiado de pirata, com uma venda num dos olhos, era o embaixador. O Major Saldanha da Gama e o Cap. Amador Cisneiros, envoltos nas cortinas dos camarotes dos oficiais, usando cabeleiras feitas de cordas desfiadas, eram o advogado de defesa e o promotor da Corte. O Major Médico Dr. R. Allison era o médico do Rei. O capelão de bordo era também o sacerdote de S.M. Vários outros oficiais, marinheiros e soldados figuravam as demais personagens da grande Corte. Após os cumprimentos do Gen. Cordeiro de Faria e das altas autoridades, houve entretanto um "sururu" qualquer, o Rei Netuno "queimou-se" e fez várias prisões, levando todos para serem julgados. O julgamento foi amistoso, sendo os réus absolvidos. Vários neófitos foram batizados. Em homenagem ao fato, o Cmte. do navio mandou distribuir dez maços de cigarros a cada soldado. A todos os oficiais foram entregues diplomas pelos quais adquiriam o direito de serem respeitados pelas baleias, serpentes dos mares, botos, tubarões, lagostas e caranguejos. Era um belo diploma, que todos guardaram carinhosamente, como recordação dessa histórica travessia. O Gen. Falconière, que viajava noutro transporte do comboio, telegrafou ao Gen. Cordeiro de Faria nos seguintes termos: "Cumprimentando pela passagem do Equador, comunico situação e disciplina tropa ótima. Somente os artilheiros de bordo tiveram de ser amarrados em suas camas, com receio grande choque de encontro linha do Equador. (a) General Falconière." O Cmte. no dia 26 havia anunciado que daria um premio de cem dólares ao soldado que primeiro avistasse a linha do Equador. Para mostrar o espírito jovial do americano, devemos citar o boletim de bordo, documento oficial, assinado pelo Cmte. e Imediato, que publicou o seguinte: "Item 2 - Passagem do Equador - Avisamos a tropa em geral que amanhã o navio atravessará a linha do Equador. Devem ser tomadas precauções especiais, pois muitas vezes se sente um choque muito violento, podendo mesmo dar-se o caso da hélice embaraçar-se na referida linha, se a passagem não for feita com muito cuidado".

"A Epopéia dos Apeninos" - José de Oliveira Ramos


O ritual do batismo, na passagem do Equador

Quem vai para a guerra deve deixar sua vida em ordem e seus negócios bem definidos. Foi outro grande trabalho desenvolvido pelas seções competentes o de atualizar as declarações de herdeiros, a lista de pessoas com que o Comando se devia comunicar e das pessoas encarregadas de receber a parte de vencimentos paga no Brasil e movimentar os depósitos bancários. Tudo isso representava enorme tarefa, mas afinal as relações de correspondentes, herdeiros e representantes foram cuidadosamente organizadas e pudemos partir despreocupados quanto à manutenção de nossas famílias. De acordo com os regulamentos em vigor, os militares em tempo de guerra recebem os vencimentos acrescidos de um terço do soldo, chamado terço de campanha. Tratando-se de uma guerra no estrangeiro recebem o triplo desses vencimentos. O cálculo de nosso pagamento era feito em dólares, à base de treze cruzeiros, transformados depois em cruzeiros, à razão de vinte cruzeiros para cada dólar, o que acrescia nossos vencimentos de sete cruzeiros para cada dólar cambiado. Assim, por exemplo, um capitão que em tempo de paz recebia dois mil seiscentos e dez cruzeiros, passaria a receber 2 610 cruzeiros mais 580 (terço de campanha), ou sejam 3 190, cujo triplo dá 9 570 cruzeiros ou sejam 736,15 dólares. Cambiados para nossa moeda, a 20 cruzeiros o dólar, temos 14 723,00 cruzeiros, que foram os vencimentos efetivamente pagos a um capitão, durante a campanha. Os demais postos eram pagos na mesma proporção, variando do general de divisão, com 32 713,80 cruzeiros, ao soldado que recebia 1 669,60 cruzeiros. Os vencimentos foram divididos em três parcelas: uma, correspondente a um mês de vencimentos de tempo de paz, que era paga à família, no Brasil; outra, correspondente mais ou menos a um mês de vencimentos comuns, paga em liras de ocupação, aos expedicionários, na Itália; a terceira, compreendendo o restante, deduzidos os descontos de consignações, montepio, etc., que era depositada em banco, sob o título de "Fundos de Previdência", que poderia aguardar o regresso do expedicionário ou ser movimentada por seu representante autorizado. Como se vê, a FEB ia bem amparada pelo lado financeiro, dando margem a que os expedicionários terminassem a campanha com boas economias, o que aliás aconteceu a quase todos. Curioso é notar que até nesta questão de vencimentos, que desde o início foi claramente estipulada pelo Governo e sobre a qual nenhuma dúvida podia existir, os quinta-coluna disfarçados, os derrotistas e germanófilos achavam campo para suas atividades, inventando e espalhando boatos tendenciosos. Lançaram dúvidas sobre o processo de pagamento, inventaram que o Fundo de Previdência seria bloqueado ou pago em bônus de guerra, enfim uma série de invencionices tolas, que, entretanto geravam confusão e aborrecimentos. Até mesmo oficiais inteligentes e que deviam estar melhor informados, diante dos boatos se deixavam levar pela descrença e foi com verdadeira surpresa que souberam que suas famílias estavam recebendo vencimentos, Fundo de Previdência, tudo em ordem. No final da campanha, ao regressarmos ao Brasil, verificamos que tudo saíra dentro das bases previstas e a liquidação de contas foi rápida, simples e satisfatória. Além dos elevados vencimentos, o Governo concedeu outras vantagens pecuniárias aos expedicionários, após a guerra, sob forma de isenção de impostos na compra de imóveis e financiamento de 100% pela Caixa Econômica, indo assim além da expectativa e pondo por terra os boatos derrotistas. Inegavelmente era a FEB, dentre as forças aliadas, a mais bem paga. Ganhávamos mais do que os americanos e ingleses, ultrapassando neste ponto a grandiosidade e magnificência dos mais ricos exércitos do mundo.

"A Epopéia dos Apeninos" - José de Oliveira Ramos


Comboio de 56 barcaças, em formação de três filas, transportando os dez mil brasileiros do segundo escalão através do mar Tirreno

Todos os expedicionários levavam, numa corrente ou cordão metálico, dependurado ao pescoço, duas placas de identidade, de metal amarelo, com os dizeres em relevo. Nela constavam o nome, número de identificação, tipo sanguíneo, ano da vacinação anti-tetânica, e as iniciais Of para os oficiais e Pr para as praças; acima do nome a palavra "Brasil". A seção do Quartel General, encarregada de fornecer as placas, lutou penosamente para que ninguém fosse desfalcado dessa importante prova de identidade. A ordem de usar as placas no pescoço era terminante. Apesar de toda severidade e fiscalização, verificou-se que muitos soldados, no teatro de operações, não tinham a placa ou a deixavam no saco, entre sua bagagem. O resultado dessa falta de compreensão de muitos soldados, que a insistência e zelo dos comandantes não conseguiu vencer, foi que tivemos dezoito mortos desconhecidos, além de inúmeros outros a custo identificados pelo Pelotão de Sepultamento. Uma aplicação interessante da placa de identidade (justamente por isso tinha os dizeres em relevo) era de servir de matriz para a Impressão da identidade do ferido ou doente, na ficha de evacuação para os hospitais. As formações sanitárias regimentais receberam um pequeno aparelho portátil, onde se colocava a ficha, juntamente com a placa e, mediante pressão manual, imprimiam-se os dizeres na ficha. Era uma operação rápida, simples e segura, dispensando os informes do ferido, que muitas vezes não estava em condições de os prestar. Outra aplicação das placas era identificar os mortos, ao serem recolhidos pelo Pelotão de Sepultamento, e depois, ao serem enterrados, uma das placas era presa à cruz do túmulo e a outra acompanhava o cadáver.
"A Epopéia dos Apeninos" - José de Oliveira Ramos


Pagadoria Fixa

"Pelo Decreto Lei nº 5 976, de 10.11.43, a remuneração do militar combatente era o triplo dos vencimentos normais. Em decorrência deste dispositivo legal o pagamento dos militares da FEB era assim dividido: uma conta fixa em liras, correspondente a um vencimento, que era entregue pela Pagadoria Fixa ao Serviço de Fundos da Divisão que fazia sua distribuição por unidade. Uma cota, denominada de consignação, e equivalente a um vencimento, que era entregue à família do militar e, finalmente, uma terceira cota denominada de fundo de previdência, também equivalente a um salário, que era depositada na Caixa Econômica em nome do militar combatente, para ser levantada em seu regresso, ou entregue ao espólio, no caso de falecimento. Para pagamento da cota em liras, foi fixado um câmbio equivalente a 5 liras por um cruzeiro e 100 liras por um dólar americano. A tropa brasileira era uma das mais bem pagas, entre as demais tropas aliadas. Essa forma de pagamento, em que constava o denominado fundo de previdência, permitia aos combatentes, depois, no seu regresso, receberem o produto desta economia forçada, que lhes permitiria realizar alguma aplicação ou investimento. Infelizmente, a falta de preparo, a maneira como foi feita a desmobilização da FEB e a inexistência de um órgão ou serviço que orientasse os ex-combatentes no seu regresso à vida civil, fizeram com que essa forma inteligente de poupança não desse os resultados esperados."

"A FEB por um Soldado"
Joaquim Xavier da Silveira
Um Herói nunca morre!
Simples História de um Homem Simples
As Origens
Força Expedicionária Brasileira
Homenagens aos Heróis
Saudade
A vida felizmente pode continuar...



Este link exibe a diferença que há entre veteranos e ex-combatentes da FEB.